A história de Nova Friburgo é ímpar por muitas razões. Nova Friburgo foi a única cidade do Brasil criada por um decreto. O município foi imaginado, planejado e construído para aguardar a chegada de seus futuros habitantes (os colonos suíços nos idos de 1819). Há quem diga, por exemplo, que a fundação de Nova Friburgo foi um dos primeiros passos para a criação no Brasil de um novo Estado na América do Sul, a Nova Lusitânia, vislumbrada pelo primeiro governador e explorador das costas brasileiras, Martin Afonso de Souza.
O tempo passou desde a colonização e Nova Friburgo cresceu. Cresceu e foi ganhando destaque. Tornou-se lugar de clima e educação disputados. Seu rápido desenvolvimento, no entanto, ensejou profundas modificações no seu traçado original. A urbanização já era um processo irreversível e a população começava a sofrer com as enchentes anuais do Rio Bengalas. O Poder Público, então, decidiu retificar o curso dos rios do município, pelo menos na área principal da cidade. Quem diria, houve um tempo em que a maior característica urbana de Nova Friburgo eram suas ruas largas e bem projetadas.
Com a chegada da energia elétrica, a partir de 1911, a industrialização e o crescimento do município se deram de forma acelerada. Em janeiro de 1943, o governo estadual instituiu um Código de Obras que passaria a reger todo os municípios fluminenses. Em 1952, o então prefeito José Eugênio Muller, já sob o regime constitucional, resolver atualizar o diploma de 43 e nomeou uma comissão para atualizar o código em vigor. Esta comissão era formada por Mânlio de Araújo Silva, Heródoto Bento de Mello, Raphael Jaccoud e os construtores José Antônio Alves e Henrique Sampaio Leal. Mas no dia e hora marcados para a reunião que daria início à comissão, uma briga entre políticos no gabinete do chefe do Executivo acabou adiando o compromisso, que nunca veio a acontecer.
Nova Friburgo e Associação de Engenheiros e Arquitetos: duas histórias que se confundem
A cidade não parava de crescer e se desenvolver e os problemas começaram a se aprofundar. As construções se multiplicavam, inclusive de galerias de águas pluviais, bem como a abertura de ruas sem respeitar as normas técnicas oficiais. No final de 1956, a construção de um prédio de 10 pavimentos na Praça Getúlio Vargas foi o estopim do descontentamento de grande parte da população, sobretudo dos profissionais de engenharia e arquitetura. Por proposta do médico Hélio Maia, numa reunião do Rotary Club Nova Friburgo, ficou decidido que seria elaborada uma lei que viesse a coibir os abusos cada vez mais freqüentes.
No início do primeiro mandato do prefeito Feliciano Costa, foi feita a Resolução nº 387, de 14 de fevereiro de 1957, que definia gabaritos, alinhamentos e tomava outras providências para disciplinar o desenvolvimento de Nova Friburgo. Uma comissão composta por César Guinle, Heródoto Bento de Mello, Oswaldo Lucho, Manuel Henriques Villarinho, Rapahel Jaccoud, Lino Fonseca, Pedro Peixoto, Gelson Viana e George Genze foi nomeada para criar um Plano Diretor e elaborar um novo Código de Obras para a cidade. A Comissão de Obras, como ficou conhecida, se reunia com freqüência. Tudo relacionado à construção civil passava agora pelo crivo dos profissionais.
Ao término de umas dessas reuniões, o grupo resolveu ir ao Bar União, na esquina da Praça Getúlio Vargas com Rua Ernesto Brasílio. Lá, entre um cafezinho e outro, a pauta do encontro seguia de maneira informal. Foi quando num dado momento, Heródoto sugere: “Porque nós não criamos uma associação que congregue os engenheiros e arquitetos de Nova Friburgo? Já somos um número razoável e a tendência é aumentar. Friburgo está crescendo e já conta com muitos profissionais da área”, disse, em tom entusiasmado na oportunidade. A proposta foi bem recebida e imediatamente foi redigido, ali mesmo no bar, o Ato de Fundação da Associação de Engenheiros e Arquitetos de Nova Friburgo (Aeanf) e escolhido seu primeiro presidente (Villarinho). Naquele momento dava-se início a história de uma das mais importantes entidades de classe do município.
A chamada Comissão de Obras prosseguia com seu trabalho. Enquanto um grupo trabalhava sem parar no desenho do Plano Diretor, o outro se dedicava a discutir e dar forma ao Código de Obras. Nesse ínterim, o Estatuto da Aeanf era também elaborado em reuniões constantes na sede da Associação Comercial, Industrial e Agrícola (Acianf). Em 1964, Heródoto assume à Prefeitura e mesmo enfrentando graves problemas financeiros no município, decide implantar o ousado Plano Diretor. Entre as ações mais marcantes daquele momento histórico, destaque para a desapropriação e demolição de todo o lado ímpar da Rua Conselheiro Julius Arp, criando assim a segunda pista na via.
Tempos depois, mesmo com a saída de Heródoto para o Departamento de Estradas de Rodagem (DER), a Aeanf prosseguiu com a implantação do Plano Diretor. Nessa época foi criado o chamado Eixo Rodoviário Urbano, com direito à construção do viaduto Geremias de Mattos Fontes e abertura de ruas e avenida. A inauguração contou com as presenças de Heródoto e Raphael Jaccoud, a essa altura Secretário de Estado de Transportes e Comunicações. Inúmeras outras iniciativas foram implementadas pela Aeanf, através do Plano Diretor. Já o Código de Obras, apesar de ter ficado pronto, não se sabe o por quê de não ter sido publicado no Diário Oficial.
Passados 35 anos, a Aeanf segue com sua saga de interagir com os interesses do município e zelar para que o crescimento de Nova Friburgo se dê de forma saudável e construtiva.